31 janeiro 2014

Noite Sem Fim - PARTE 2

''O que eu faço, droga?!'' Aquela mulher havia sido assassinada e a imagem horrível dela caída e ensanguentada no asfalto não saia da cabeça de Kevin. ''Que tipo de coisa faria aquilo?! Meu Deus...!'' Kevin estava ofegante, apoiado com as mãos nos joelhos e não tirava sua mãe da cabeça. Mais barulhos do lado de fora, vindos de todos os lados. Alguma coisa estava esbarrando nas cercas e arranhando as paredes da casa. Kevin segurou com firmeza a faca de cozinha que havia pego logo após entrar correndo e trancar a porta. Ele ficou abaixado atrás do sofá, imóvel e em silêncio, tentando ouvir, e tentando não ser ouvido. Os sons estranhos começaram a vir do telhado também - pequenos arranhões que deslocavam-se de um ao lado ao outro rapidamente. Kevin estava tenso e iluminava o teto da sala tentando acompanhar a direção dos passos. ''Desliga isso, seu idiota, eles vão ver!'' - pensou consigo mesmo, desligando rapidamente a lanterna. A escuridão agora era total. Seus dentes estavam apertados e o suor escorria-lhe sem parar da testa e exilas. Por alguns segundos os sons acabaram, até que um som de vidro quebrando invadiu a casa como um estouro. ''A Janela!'' Kevin levou um susto e olhou em todas as direções. O barulho parecia ter vindo da cozinha. ''Droga, não posso ficar aqui!'' Ele foi até os degraus e começou a subir devagar, um por um, até chegar no corredor. Engoliu em seco e prosseguiu, tateando as paredes, até encontrar a porta de seu quarto. Parecia vazio da mesma forma como o havia deixado. A janela estava fechada e trancada. Parecia seguro. Kevin saiu e foi até o quarto de sua mãe; a porta estava entre aberta e não dava para enxergar nada ali dentro. A escuridão não era natural, não havia Lua, não haviam estrelas... Era como se estivesse em outra dimensão. Uma brisa gelada o atingiu e seus passos ficaram estalados... ''Essa não..." Com a lanterna, constatou que o vidro e o molde de madeira estavam quebrados e o chão estava cheio de vidro. Um arrepio, como uma fina corrente elétrica percorreu toda sua espinha, até chegar ao peito, e ele virou lentamente. procurando pelo invasor em todos os cantos, mas não encontrou nada. Mas Kevin sentia-se observado, havia um cheiro estranho no ar, um cheiro forte. Uma gosma pingou na sua mão, seguida de um ronco. O coração de Kevin disparou e ele percorreu a parede do quarto com lanterna - suas pupilas completamente dilatadas acompanhando o feixe de luz até encontrar o invasor: três pontos vermelhos como olhos flamejantes vinham de uma massa negra indescritível. Aquela nuvem que era mais densa que a própria escuridão caiu do teto furiosa, aos gritos. Lágrimas escorriam dos olhos de Kevin enquanto a única coisa que pensava era em sua morte iminente. Acabaria como aquela mulher lá fora. Mas a criatura não avançava, não chegava perto o suficiente... Algo estava errado...Ela gritava e parecia incomodada, impedida de satisfazer sua vontade de sugar o sangue e os intestinos daquele saco de carne a sua frente. Isso fez Kevin engolir a saliva que acumulara e perceber que a criatura não conseguia avançar, por causa... ''Por causa da luz lanterna!'' Assim que retomou o controle sobre seu corpo, ele cautelosamente foi se aproximando, forçando a criatura a espremer-se em um canto ao lado da porta, possibilitando a passagem. Kevin passou próximo o suficiente para pensar ter visto dentes ou garras e então trancou-a dentro do quarto, imaginando que a criatura não soubesse usar a maçaneta. Ele desceu os degraus correndo. Barulhos intensos começaram a surgir pelo telhado da casa. Os gritos da criatura devem ter deixado as outras agitadas. Mais barulhos de vidro, a casa estava sendo invadida! Ao descer o ultimo degrau, levou um segundo para pensar oque fazer a seguir, e então correu em direção a rua. Não sabia se essa era a melhor decisão, mas não havia tempo para pensar; a janela da sala estourou também e alguma coisa a invadiu; Kevin teve um rápido vislumbre de vários pontos vermelhos surgindo atrás de sí - provavelmente os olhos dessas malditas criaturas - e então saiu, deixando a porta escancarada. Ele poderia morrer na rua, mas certamente já estaria morto se não tivesse saído. Ao chegar na esquina, virou a direita e continuou correndo, passando por várias casas totalmente escuras. ''Onde estão as pessoas? Será que estão mortas? Mãe, por favor... por favor meu Deus, que ela esteja viva.'' Seus olhos lacrimejaram ao imaginar a mãe morta. ''Que ela não termine como aquela mulher, por favor, por favor.'' Suas mãos tremiam e sua respiração estava pesada. Kevin olhava para trás o tempo todo para certificar-se de que não estava sendo perseguido, mas era tão inutil quanto caminhar de olhos vendados; a luz da lanterna estava no foco máximo e mesmo assim mal iluminava o asfalto a sua frente; era como se uma fina névoa estivesse no ar, como uma neblina, só que negra. ''A luz, a luz é o ponto fraco delas! Faz sentido... Eu tenho uma chance agora. Mas é melhor me apressar e ir até a delegacia. Estarei mais seguro lá...''

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