01 fevereiro 2014

Noite Sem Fim - PARTE 4

O segundo andar da delegacia estava mais escuro que lá em baixo. Haviam dois corredores, um a direita e outro a esquerda. sendo que um deles estava completamente escuro e o outro continha bastões fosforescentes verdes espalhados pelo piso. Menezes conduziu Kevin pelo corredor sinalizado. No final do corredor haviam duas portas. - Vamos rapaz, por aqui. - O policial colocou-se ao lado da porta a direita e deu duas batidas fortes, com um pequeno intervalo entre cada uma. Enquanto aguardavam, Kevin observava a porta escura a esquerda. Alguma coisa gosmenta e brilhosa escorria por baixo dela.

- O que tem atrás daquela porta?

O policial o encarou, e antes que pudesse responder, um barulho de trincas foi ouvido e então a porta abriu.

- Menezes, o que foi? Aconteceu alguma coisa? - perguntou um policial jovem, três ou quatro anos mais velho que Kevin.
- Nós achamos outro civil, este rapaz aqui. - disse ele, introduzindo Kevin. - O rapaz procura por uma tal de Lisa, talvez você possa ajuda-lo.
- Sim, mas onde estão Carlos e o capitão Joseph?
- Estão a minha espera. Eu preciso alcançar eles agora.
- Certo.

Menezes fez um sinal afirmativo com a cabeça e deu as costas.

- Richard... - chamou Menezes.
- S-Sim senhor?
- ...você tem feito um bom trabalho, continue assim e sobreviveremos a isto. - completou.
- Sim, senhor. Obrigado, senhor.

Menezes correu e, assim que desapareceu, Richard fechou a porta e a trancou.


__________


A sala - que parecia uma salinha de espera - estava iluminada apenas o suficiente para que pudessem enxergar sem lanternas. Kevin observava o pequeno grupo de civis. Três homens, uma mulher e uma garotinha, mas nem sinal de sua mãe Lisa.

- Droga, mãe... Não tem mais nenhum? Não haviam outros? - Perguntou Kevin, com um pouco de esperança.
- Haviam outros dois civis conosco, sim, mas eles morreram lá em baixo. Sinto muito pela sua mãe.
- Tudo bem, não é necessário. Ela esta viva. Teu nome é Richard, certo?
- Sim. - respondeu o jovem policial observando a janela pelas frestas da cortina.
- De qualquer forma, Richard, obrigado.

Richard assentiu com a cabeça. Ele viu sua namorada e vários de seus amigos morrerem, e acreditava que lá fora somente o pior poderia acontecer, mas claro, não diria isso a Kevin. Precisava manter a ordem ali dentro e agir como um profissional. Richard poderia ser um dos policiais mais jovens e pouco experientes daquela delegacia, mas passou com algumas das melhores notas na academia. Seu pai ficaria orgulhoso, era oque ele sempre pensava.

Um dos homens, um senhor calvo de meia idade parecia muito mal e estava deitado no chão com a cabeça apoiada no colo da mulher, que chorava e segurava sua mão. Uma garota estava sentada ao lado com uma expressão preocupada.

- Uma daquelas coisas o pegou - disse Matheus, que estava calado até então. - Foi no pátio da delegacia; ele estava tentando proteger a filha e a esposa. Foi tudo muito rápido; quando os policiais chegaram lá, a criatura já estava em cima dele.

Kevin aproximou-se um pouco para olhar. A camisa do homem estava aberta, expondo o peito nú e pálido com diversos arranhões e ferimentos em carne viva na altura do abdômen. Kevin retornou até Richard e falou em voz baixa:

- Os ferimentos parecem bem feios, ele não vai sobreviver por muito tempo sem ser tratado.
- Eu sei. Tentamos estancar o sangramento, mas como pode ver, sem muito sucesso. Paul e Mike foram até a ala médica da delegacia pra buscar morfina e algum medicamento hemostático, mas isso já faz quase duas horas. - Richard suspirou. - Nós fomos pegos de surpresa, há muitos mortos lá fora; ninguém estava preparado pra uma situação dessas. Não demoramos a descobrir que o ponto fraco dessas coisas é a luz, mas, ainda assim, em momento algum estivemos na vantagem. Droga... C-Como é mesmo o seu nome, garoto?
- Kevin.
- Escute Kevin, nós estamos montando um plano aqui, mas precisamos esperar o capitão voltar com... - O policial foi interrompido. Um dos homens, um homem de meia idade alto usando paletó, aproximou-se dos dois.

- Desculpem, eu estava ouvindo e... Kevin, você disse?
- Sim, é meu nome. Eu te conheço?
- Kevin, filho da Lisa?

O coração de Kevin disparou.

- Quem é o senhor?! Você sabe alguma coisa da minha mãe?!
- Calma. Meu nome é Alan... bom, eu e sua mãe, nós estamos saindo a algum tempo...
- Então você é o tal. Se sabe alguma coisa sobre o paradeiro dela, me diga, por favor!

O homem prosseguiu:

- Sua mãe estava na minha casa; ela foi embora de madrugada. Eu deitei e dormi, mas acordei pouco depois com o barulho de tiros e gritos na rua. Estava uma escuridão total lá fora e também não havia luz na minha casa. Quando eu fui pegar meu celular para ligar pra policia, vi uma mensagem de voz que Lisa havia deixado. Sua mãe parecia apavorada, não dizia coisa com coisa. Falou que as pessoas estavam sendo mortas por ''monstros invisíveis'', e que as ruas estavam ficando completamente escuras. Ela tentou ligar pra você, mas não conseguiu e pediu pra eu ligar, mas, na parte em que ela vai me dizer seu numero, a mensagem começa a chiar e ficar cortada. Não dá pra entender muito bem, mas... espera um pouco, ouça você mesmo. - Ele tirou o celular do bolso. - Eu venho tentando fazer ligações a horas, mas alguma coisa esta bloqueando o sinal.

Kevin pegou o celular, deu play na mensagem e colocou no viva voz.

''Alan! Alan! Eu preciso de ajuda!(sons de carros buzinando) A cidade esta ficando escura, meu carro apagou e tem alguma coisa matando as pessoas na rua! E-Eu vi, eu vi um... Ai meu Deus, tem muita gente gritando! (gritos e correria ao fundo).
Alan, liga pro meu filho, eu não estou conseguindo falar com ele! Eu vou lhe passar o nume... e liga... 9... 3... 15; quando ele atender, diga .................... tio Fillip! E chame a... também, você mora do lado da delegac-c-c-c-c...........! Rápido!!..............................................................................

- E então a mensagem acaba ai. Eu tentei ligar pra você diversas vezes, mas seu celular estava desligado. A princípio eu pensei que sua mãe estivesse ficando louca, mas...

Kevin estava com o olhar perdido, pensativo.

- Fillip! Ela disse o nome do meu tio, então talvez ela esteja com ele!
- Eu acredito que ela esteja viva. Veja isso. Eu recebi uma ligação dela a pouco mais de meia hora.
- E você não atendeu!?
- É claro que sim, e cheguei a ouvir a voz dela, mas a ligação caiu antes que eu pudesse sequer perguntar se ela estava bem. A horas eu venho tentando ligar pra sua mãe, e também pra minha filha, mas as ligações não se completam, não tem sinal nenhum aqui.
- Talvez subindo até o terraço nós consigamos um sinal! - Disse Kevin.
- Fora de cogitação. - Richard interferiu. - Ninguém sai daqui. Ordens do capitão.

Kevin tentou falar, mas Richard continuou:

- Lá fora é arriscado demais; essas criaturas invadiram a delegacia pelas vidraças, ou seja, elas escalaram o edifício. Nós bloqueamos as janelas dessa sala e a unica porta de entrada é aquela - disse apontando -, portanto este é o local mais seguro no momento.
- Mas eu preciso tentar, é a minha mãe que está la fora! - Kevin dirigiu-se até a porta.
- Desculpe, não posso deixa-lo sair. - O policial se adiantou, colocando-se a frente dele.
- Kevin, escute, a gente precisa pensar sobre isso. Sair assim é suicídio. - Interviu Alan.
- Escuta, rapaz, vamos esperar o capitão voltar com o pessoal e então eu prometo que iremos conversar. Nós estamos montando um plano e vamos passar os detalhes assim que... - Richard foi interrompido.

- Droga, olhem aquilo! - Matheus os chamava na janela.
- O que foi, Matheus? - Richard correu. - O que está acontecendo?
- Veja isso, tem mais gente lá fora. - Respondeu o homem, apontando.

Richard se aproximou e olhou pelas frestas da barricada. Haviam três feixes de luz aproximando-se rapidamente do pátio da delegacia. Não dava para enxergar muito bem, mas pareciam três civis homens e estavam correndo e gritando por socorro.

- Precisamos ajuda-los! - Disse Alan. Matheus concordou.
- Não, nós não podemos. Eu sou o único aqui que tem uma arma, mas ela é inútil sem aqueles sinalizadores.

Alguma coisa pegou um dos civis, os outros continuaram correndo.

- Merda! - Matheus afastou-se e foi em direção a porta.
- Matheus, onde você pensa que vai!?
- Eu não vou ficar aqui parado vendo isso!
- Você vai acabar morto! - Richard tentava interferir, mas era inútil. Então ele sacou o revolver e apontou na direção de Matheus - Fique parado, não me obrigue a atirar em você!

Matheus se virou. Kevin e Alan aproximaram-se tentando acalmar. A mulher e a menina continuavam sentadas, observando aflitas a situação.

- Então é isso? Você vai me dar um tiro para evitar que eu saia? - Disse Matheus em tom sarcástico.
- Não faz isso filho! - Alan olhava-os preocupado.

Após alguns segundos de silêncio, Richard baixou o revolver.

- Quando eu era criança eu queria ser herói, e cresci com esse sentimento queimando no peito. Eu queria ser o cara que prende bandidos, salva vidas e protege pessoas. - disse Richard, olhando para todos. Após uma pausa que durou dois segundos, ele prosseguiu, em tom menos alterado: - Sou policial a menos de um ano e só hoje já perdi dezenas de pessoas que eu queria ter protegido, todas vítimas daquelas coisas. Meus amigos, meus companheiros, minha namorada... Não consegui proteger nenhum deles... então... então eu peço - olhou fixamente para Matheus - não saiam desta sala. Por favor...

Matheus encarou Richard por alguns instantes, durante um momento de silêncio; então, passado alguns segundos, ele se afastou da porta e caminhou lentamente até a parede, escorando-se próximo a uma mesinha com velas. Richard deu um suspiro e olhou para Kevin e Alan. Suor escorria-lhe pela testa. - Droga...

Lá fora os civis gritavam por ajuda; gritos que ficavam cada vez mais intensos, mais desesperados, até transformarem-se em gritos de dor, de agonia. Ninguém na sala atreveu-se a falar. O melhor a fazer era fingir que não estava ouvindo. Kevin já não aguentava mais e ia falar algo, quando Alan segurou seu braço, fazendo um gesto negativo com a cabeça. Os gritos então foram desaparecendo, até que um ultimo grito de agonia pode ser ouvido. Silêncio.

8 comentários:

  1. Oi me chamo Maicon e eu acompanho seu blog desde o inicio e queria te fazer uma proposta eu sonho apenas com terror que pelo que me lembro existe um disturbio cerebral assim e caso voce me adicionasse n face eu poderiia te dar otimas ideias para o blog meu nome no face ė Maicon Ramires a foto ė ua do nero do devil may cry

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    1. Oi Maicon, desculpa a demora, eu não havia percebido seu comentário. Que bom que acompanhas meu blog a tanto tempo (: Espero que esteja gostando dos conteúdos! Bom, eu te adicionei no Facebook; você disse que teu perfil tem uma foto do Nero? Então acho que adicionei a pessoa certa. Abraço, nos falamos.

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    2. Sim,obrigado,mas qual ė o seu nome no face '-'

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    3. Eu me chamo Otávio Augusto Hoeser.

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    4. hm....okay achei =) vou preparar as historias

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  2. Eu andei muito ocupado nos ultimos meses, mas continuo escrevendo em horas vagas. Pretendo lançar a continuação dos contos inacabados assim que estiverem prontos.

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