29 março 2014

DIA Z - PARTE 6

Após a morte de David, os zumbis que estavam do lado de fora vieram atraídos pelo som dos disparos e começaram a se aglomerar em frente a loja. A barricada feita na porta parecia estar desempenhando um bom papel, mas o mesmo não poderia ser dito a respeito da vitrine, que estava prestes a desabar e não suportaria por muito mais tempo toda a pressão causada pelos corpos de algo próximo a quarenta zumbis, que debruçavam-se e se batiam contra o vidro.

- Jéssica, Elias, me ajudem a amarrar essas capas e lençóis uns aos outros! Rápido!
- O que você vai fazer!? - perguntou Jéssica.
- Apenas façam oque eu disse e irão ver!
- É bom que seu plano - seja ele qual for - de certo, pois nós não temos mais tempo! - gritou Elias, já retirando os lençois e capas das peças em esposição e atirando-as no chão.

Os três começaram a amarrar os lençóis uns aos outros. A vidraça rachou e estourou, e os zumbis da linha de frente cairam de bruços para dentro da loja, atrapalhando a passagem dos de trás.

- Franco!! - gritou Jéssica.
- Eu sei! - observou as ataduras - Isso já deve servir, me acompanhem, corram!!

Chegaram até o fundo da loja.

- Lá em cima! - apontou Franco.
- A janela!? - Elias não parecia contente. - Tem certeza disso!? Não acho que vá...!
- Não dá tempo pra pensar! Jéssica, você vai na frente, eu e Elias vamos amarrar esses lençóis nessa... - olhou ao redor -... no pé desse balcão aqui, e depois jogamos ela pra você! Rápido garota, nós lhe damos cobertura!
- Esse balcão não vai aguentar nosso peso!! - gritou Elias.
- Então estaremos todos mortos!

Os zumbis avançavam. Jéssica já estava subindo, mas seu braço doia e ela estava tendo dificuldade. Franco a empurrou, ajudando-a a alcançar a janela e em seguida lhe jogou a corda improvisada.

Elias disparou sua arma algumas vezes, acertando alguns zumbis ao longe.

- Vai logo, menina!! - gritou ele.

Jéssica agarrou a corda, fechou os olhos e desceu. A janela dava pra rua, e ela acabou caindo em cima de um caminhão que havia invadido a calçada, quebrado o muro e colocado metade da boléia pra dentro do shopping. Ela gritou e levantou rápidamente, com os olhos lacrimejados de dor, por ter amortecido a queda com o braço enfaixado, e ficou ansiosa aguardando pelos outros. Vários disparos começaram a ser dados lá dentro, e segundos depois Elias apareceu na janela, agarrando-se a corda e jogando-se em cima do caminhão. Caiu com um gemido e levantou-se rapidamente.

- E o Franco!? - perguntou Jéssica, aflita. Elias não respondeu, apenas encarava fixamente a janela.

Mais três disparos foram dados, e logo em seguida Franco surgiu, mas parecia estar com dificuldade para sair - como se algo estivesse o agarrando! - Jéssica gritou ao ve-lo, angustiada ao perceber que ele estava com problemas. Ele fez força e conseguiu empurrar-se para fora, agarrando-se a corda que quase lhe escapou da mão; Franco então desceu aos poucos, e quando estava na metade do caminho o tecido desatou e ele caiu de costas, soltando um grito de dor. Elias e Jessica o ajudaram.

- Você esta bem!? - Jéssica estava bastante preocupada.
- Estou, mas derrubei minha arma lá dentro enquanto subia. Merda! - gemeu de dor e abaixou-se, colocando a mão nas costelas.
- Você se machucou!
- Apenas cai de mal jeito, vou ficar bem, não se preocupe.

Elias já estava descendo do caminhão e chamou a atenção dos dois.

- Nós precisamos ir, não é seguro ficar aqui fora!

Jéssica precisou ajudar Franco a levantar, mas ele pode prosseguir sozinho. Desceram do caminhão. Estavam na rua de trás do shopping, próximo ao estacionamento subterrâneo, e ali não era muito diferente do resto: fatalidades para todos os lados, muitos corpos e destruição. Um zumbi solitário caminhava ao longe, e havia outro prensado entre destroços de carros acidentados. Ele havia avistado Jéssica e os outros, e estava com um dos braços extendidos na direção deles.

- E quanto a delegacia? - perguntou Elias.

Franco franziu as sobrancelhas.

- A delegacia já era. Essas, ''coisas'', tomaram o lugar e transformaram o prédio em um banho de sangue. Somente alguns policiais conseguiram fugir. Eu, Russel e Rico escapamos por pouco e chegamos até um de nossos carros.
- Quem é Rico? - perguntou Jéssica.
- Henrico, era nosso companheiro que estava dirigindo o carro. Ele morreu no acidente.
- Eu sinto muito pelo seus amigos...

Franco deu um pequeno sorriso para Jéssica.

Jéssica queria dizer algo a respeito de David também, mas não sabia como. Elias parecia ser uma boa pessoa, mas o velho também era um tanto assustador.

- É dificil acreditar que a polícia da cidade tenha sido vencida por esses monstros sem inteligência. - falou Elias, depois de um breve silêncio entre eles.

Franco não pareceu incomodado em responder.

- Muitos dos policiais haviam saido para atender a chamados em diversas localidades da cidade; o prédio estava em uma verdadeira correria, os telefones não paravam de tocar, e ninguém sabia oque estava acontecendo. Foi tudo rápido demais... e-eu ainda lembro do primeiro que vi: ele estava banhado em sangue, com uma faca cravada no peito e caminhava lentamente, com o rosto pálido e os olhos perdidos em qualquer direção. Ele então começou a vir até mim, e eu não sabia oque fazer, mas... Em todos esses anos, eu nunca havia precisado disparar minha arma contra um civil...

Elias afastava-se lentamente, pensativo. Estavam todos visivelmente estressados e cansados; seria suicidio ir atrás daquela maleta agora, ainda mais sem um plano. Precisaria esperar até o outro dia, e talvez pudesse convencer Franco a ajuda-lo... Elias virou-se.

- Sinto muito pelos seus companheiros. Eu posso imaginar o inferno que você passou; ainda estamos nele, aliás. - sua voz estava mais calma. Ele olhou para cima. - Já está escurecendo...

- É verdade. Nós podemos ir até a minha casa, não é muito longe e com sorte conseguiremos chegar lá antes das ruas ficarem completamente as escuras.

Elias e Jéssica concordaram. Era a melhor alternativa que tinham no momento.



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Quando chegaram, a noite já havia caído e o tempo havia fechado, anunciando uma possível chuva. A casa de Franco parecia um bom lugar para se esconder.  Era uma residência fechada, com muros altos de concreto e uma unica entrada frontal - uma porta larga de metal que possuía uma porta menor no meio dela, servindo assim tanto como porta de entrada para carros, quanto como porta de entrada para pessoas. - Não enfrentaram muita dificuldade no caminho, pois por algum motivo desconhecido, a maioria dos zumbis pareciam ter migrado daquele lado da cidade para outro; a meia duzia que viram perambulando foram facilmente distraídos e evitados; apenas um precisou ser abatido, pois estava parado em frente a casa de Franco. Elias empalou-o na nuca com um pedaço de ferro. A criatura pouco sangrou; já havia se transformando em um saco de ossos e de carne ressecada

- Graças a Deus eu nunca tiro minhas chaves do bolso - disse Franco, abrindo a porta. - Entrem.

Entraram, e por algum milagre a casa tinha energia elétrica.

- Sintam-se em casa, por favor. Vocês devem estar famintos. Garota, o banheiro é lá em cima; aposto que você deve estar louca por um banho.
- Obrigada. - Jéssica subiu as escadas. Era incrível terem conseguido sobreviver até agora e, pela primeira vez, desde que aquele caos todo começou, ela sentia-se segura de novo.

Assim que Jéssica subiu, Franco foi até a geladeira.

- Merda, eu queria ter mais opções de comida pra oferecer, mas... - retirou duas garrafas geladas de cerveja e jogou uma para Elias. - Sinta-se a vontade para beber quantas quiser, e se quiser comer alguma coisa, não espere por mim.

Elias agradeceu.

- É uma bela casa que você tem.
- Obrigado, era da minha esposa.
- Divorciado?
- Viuvo.

Elias ficou um pouco sem jeito.

- Eu sinto muito.
- Tudo bem - Franco deitou-se no sofá -, já fazem quase quatro anos. Mas foi dificil no inicio, principalmente pra minha filha...
- Você tem uma filha? - Elias abriu a garrafa de cerveja e sentou-se em uma poltrona que ficava em diagonal com o sofá.
- Sim, Lara. Ela sofreu bastante, sempre foi muito mais apegada a mãe, e quase desistiu de cursar a universidade quando ela faleceu. Mas eu não deixei, lutei por ela, sempre a apoiei, e ela acabou depositando toda a confiança que tinha na mãe, em mim. Confesso que, eu ainda não conhecia tanto o significado da palavra pai até então; e eu acho que de alguma forma, minha esposa esteve sempre presente comigo nesses quatro anos, ajudando-me com nossa filha. Graças a ela, graças a nós, e principalmente graças a Deus, a minha garota esta bem longe daqui agora. Esta cursando enfermagem em Chicago.
- Você é um bom homem Franco, sua filha com certeza deve se orgulhar muito de você. - tomou um gole de cerveja. - Minha esposa também faleceu, mas fazem muitos anos já, eu era mais novo que você.
- Eu sinto muito.
- É, ela tinha câncer. Infelizmente não tivemos filhos, e desde a morte dela eu nunca mais tive interesse. Mas, seis anos atrás, quando o meu irmão veio a falecer, eu acabei ganhando um filho, o David... e...

Franco silenciou e tomou mais um gole de sua cerveja. Elias continuou:

... mas não falemos mais disso. - encerrou o assunto. - O que é que você tem pra comer naquela geladeira, mesmo?

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